"Vem noite, vem escuridão, pois não podes chegar demasiado cedo ou permanecer muito tempo num lugar como este! Vinde, luzes errantes, para dentro das janelas das casas horrendas, e vós que praticais ali iniquidades, praticai-as pelo menos com exclusão desta cena terrível! Vem, chama do gás, ardendo tão tristemente por cima do portão de ferro, sobre o qual o ar envenenado deposita seu bálsamo de bruxas, peganhento como visgo! É bom que chames a atenção de todos os passantes: "Olhai para aqui!".
Com a noite, surge um vulto curvado, que atravessa o túnel, na direção do portão de ferro [do cemitério]. Agarra o portão com as mãos e olha para dentro, através das grades, assim permanecendo por algum tempo.
Depois, com uma velha vassoura, que carrega consigo, vai de mansinho varrendo o degrau, limpando a passagem abobadada. Faz isso com bastante diligência e primor, olha para dentro ainda um pouco e vai-se embora.
És tu, Jo? Muito bem, muito bem! Embora testemunha recusada que "não sabe dizer com exatidão" o que farão com ele mãos mais poderosas do que as dos homens, não estás completamente nas trevas exteriores. Há qualquer coisa parecida com um distante raio de luz na tua balbuciante razão quando dizes:
- Ele era muito bom para mim, era muito bom!
--- Charles Dickens, A Casa Soturna