sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

The White House Years

"As superpotências muitas vezes comportam-se como dois cegos fortemente armados tateando dentro de uma sala, cada um deles supondo-se mortalmente ameaçado pelo outro, que ele presume ter visão perfeita. Cada lado deveria saber que muitas vezes a incerteza, a concessão e a incoerência são a essência do fazer político. No entanto, cada um tende a atribuir ao outro consistência, providência e coerência desmentidas por sua própria experiência. Naturalmente, com o passar do tempo, mesmo dois cegos armados podem causar enormes danos um ao outro, sem falar da sala onde estão".

--- Henry Kissinger, The White House Years (1979)
--- in O Bater de Suas Asas, de Paul Hoffman

Ainda uma criança...

"Nicholas, você não conhece sobre as pessoas este primeiro e mais crucial fato: cada uma delas é, e dolorosamente tem consciência disto a todo momento, ainda uma criança. Ir além de uns 8 anos de idade não é permitido a este primata... E, de fato, essa criança é a única coisa real nelas. É sua humanidade, sua verdadeira individualidade, que não consegue entender porque nasceu e sabe que terá que morrer, ainda que no meio de uma multidão, totalmente sozinha. É isso que carrega todas as qualidades do que é vivo. É o centro de toda a magia e revelação possível. O que não vem dessa criatura, não vale a pena ter. Esse é o paradoxo: o único momento em que a maioria das pessoas se sente viva é quando está sofrendo, quando algo esmaga sua couraça comum e cuidadosa, e a criança nua é atirada ao mundo. Por isso as coisas piores de se suportar são as melhores de se lembrar.

--- Ted Hughes ao seu filho, Cartas de Ted Hughes
--- in O Bater de Suas Asas, de Paul Hoffman

terça-feira, 2 de julho de 2013

Estrelas...


Olhei para o que ele construiu, e para mim aquilo explicava as estrelas... (Stephen King)

Sobre a vida...

(...) houve ocasiões em que Cimi tinha visto um edifício [de cartas de baralho] que o Sr. Balazar (...) passara horas construindo cair porque os graves do toca-discos automático eram altos demais. Outras vezes as leves construções caíam aparentemente sem qualquer razão. Um dia  (...) o Patrão erguera os olhos da ruína e dissera:

- Está vendo isto, Cimi? Por cada mãe que amaldiçoou Deus pelo filho morto na estrada, por cada pai que amaldiçoou o homem que o despediu da fábrica e o deixou sem trabalho, por cada criança que nasceu para sofrer e pergunta por quê, esta é a resposta. Nossas vidas são como essas coisa que construo.  Às vezes, elas caem por alguma razão; às vezes, caem por absolutamente razão nenhuma...
(A escolha dos três - Stephen King)

Thomas Wolfe

...uma pedra, uma folha, uma porta não encontrada; de uma folha, uma pedra, uma porta. E de todos os rostos esquecidos.

Nus e sozinhos entramos no exílio. Em seu útero escuro, não reconhecemos o rosto de nossa mãe; da prisão de sua carne viemos entrar na indizível e incomunicável prisão desta terra.

Algum de nós conheceu seu irmão? Algum de nós investigou o coração de seu pai? Algum de nós não permaneceu para sempre prisioneiro-encurralado? Algum de nós não é para sempre um estranho sozinho?

... Oh, fantasma perdido, e pelo vento tocado, volte outra vez.
--- Look Homeward, Angel

domingo, 16 de junho de 2013

Beijo no escuro...


"Agarre meu braço agora. Agarre com força. Iremos a vários lugares escuros, mas acho que conheço o caminho. É só não largar meu braço. E, se por acaso, receber um beijo meu no escuro, não dê muita importância; é apenas porque te amo."

---Stephen King

A Sombra do Vento

"O destino costuma estar na curva de uma esquina. Como se fosse uma linguiça, uma prostituta ou um vendedor de loteria: suas três encarnações mais comuns. Mas uma coisa que ele não faz é visitas a domicílio. É preciso ir atrás dele".
(Carlos Ruiz Zafón)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Charles Dickens - A Casa Soturna

      "Vem noite, vem escuridão, pois não podes chegar demasiado cedo ou permanecer muito tempo num lugar como este! Vinde, luzes errantes, para dentro das janelas das casas horrendas, e vós que praticais ali iniquidades, praticai-as pelo menos com exclusão desta cena terrível! Vem, chama do gás, ardendo tão tristemente por cima do portão de ferro, sobre o qual o ar envenenado deposita seu bálsamo de bruxas, peganhento como visgo! É bom que chames a atenção de todos os passantes: "Olhai para aqui!".
       Com a noite, surge um vulto curvado, que atravessa o túnel, na direção do portão de ferro [do cemitério]. Agarra o portão com as mãos e olha para dentro, através das grades, assim permanecendo por algum tempo.
Depois, com uma velha vassoura, que carrega consigo, vai de mansinho varrendo o degrau, limpando a passagem abobadada. Faz isso com bastante diligência e primor, olha para dentro ainda um pouco e vai-se embora.
     És tu, Jo? Muito bem, muito bem! Embora testemunha recusada que "não sabe dizer com exatidão" o que farão com ele mãos mais poderosas do que as dos homens, não estás completamente nas trevas exteriores. Há qualquer coisa parecida com um distante raio de luz na tua balbuciante razão quando dizes:
     - Ele era muito bom para mim, era muito bom!
--- Charles Dickens, A Casa Soturna

sábado, 4 de maio de 2013

H. G. Wells

(...) Pense (...) naquelas pessoas exaustas. Pessoas submetidas a tensão excessiva, com o desejo de fazer, querendo ser... Pessoas, de fato, estressadas... O verdadeiro problema da vida, Ponderevo, não é porque existimos - isto é um erro comum; o verdadeiro problema é que nós não existimos realmente, e queremos existir. Isto é o que - no melhor sentido - o dinheiro significa! O desejo de sentir - ao menos uma vez - que se está vivo, realmente!...

Ninguém quer fazer as coisas que os outros fazem nem ser o que os outros são - ninguém. Você não quer presidir esse engarrafamento. Eu não quero usar estas abomináveis roupas e ser conduzido por você, ninguém quer continuar rotulando estas garrafas de baboseiras baratas. Isto não é existir! Isto é - subs - substrato. Nenhum de nós quer ser o que somos, ou fazer o que fazemos. Exceto, como uma espécie de base. O que queremos? Você sabe. Eu sei. Ninguém confessa. O que todos nós queremos é ser alguma coisa eternamente jovem e bela - jovens Júpiters - jovens Júpiters, Ponderevo, perseguindo tímidas e recatadas ninfas através de florestas eternas...

--- H. G. Wells em Tono Bungay

domingo, 21 de abril de 2013

Sua vida deve ser uma cidade aberta...

"Você terá esse livro em suas mãos e vai aprender junto comigo todas as coisas que aprendi: não existe imortalidade que não seja baseada em amizade e trabalho feito com capricho. Todos os segredos do mundo que merecem ser conhecidos estão debaixo de nossos olhos. Levam 41 segundos para subir uma escada de três andares. Não é fácil imaginar o ano de 3012, mas isso não significa que você não deva tentar. Temos agora novas habilidades, poderes estranhos aos quais ainda estamos nos acostumando. As montanhas são uma mensagem de Aldrag, o patriarca Wyrm. Sua vida deve ser uma cidade aberta, saiba quais são e deixe claros todos os modos de se entrar nela.
Depois disso, o livro vai desaparecer, como desaparecem todos os livros em sua mente. Mas espero que se lembre disso:

Um homem caminhando apressado por uma rua escura e deserta. Passos rápidos e respiração ofegante, maravilhado e ávido. Um sino acima de uma porta e seu tilintar. Um atendente e uma escada e uma luz dourada e quente, e então: o livro exatamente certo, no tempo exatamente certo".

--- Robin Sloan, em "A livraria 24h do Mr. Penumbra"