quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Osho


(...) o Eremita não quer voltar ao rebanho, mesmo que possa. Solidão é quando você está sentindo falta do outro, explica o mestre a ele, na neve dos pensamentos - solitude é quando você está encontrando a si mesmo, rebatiza o velho.

A mente comum sempre joga as responsabilidades nos outros, diz sempre que é o outro quem faz você sofrer, mas não há culpados, pois ambos estão sozinhos.

Seus passados já congelaram, petrificaram no tempo. Aqui não lhes cabe culpar alguém, esse venenoso hábito.

Eis o Grande Rito. Da consciência. À consciência.

Você está só no mundo: você veio ao mundo só, você está aqui só, e você deixará este mundo só, por isso, que levem na trouxa qualidades, não quantidades, ou que entreguem à Existência apenas a flor, porque todas as opiniões alheias ficarão para trás; somente os seus sentimentos originais, as suas experiências autênticas o acompanharão até mesmo além da morte, seja essa qual for.

Cecília Meireles


Para além da orelha existe um som, à extremidade do olhar um aspecto, às pontas dos dedos um objeto - é para lá que eu vou.

À ponta do lápis o traço.

Onde expira um pensamento está uma idéia, ao derradeiro hálito de alegria uma outra alegria, à ponta da espada a magia - é para lá que eu vou.

Na ponta dos pés o salto.

Parece a história de alguém que foi e não voltou - é para lá que eu vou.

Ou não vou? Vou, sim. E volto para ver como estão as coisas. Se continuam mágicas.

Realidade? Eu vos espero. É para lá que eu vou.

Na ponta da palavra está a palavra. Quero usar a palavra "tertúlia" e não sei aonde e quando. À beira da tertúlia está a família. À beira da família estou eu. À beira de eu estou mim. É para mim que eu vou. E de mim saio para ver. Ver o quê? Ver o que existe.

Depois de morta é para a realidade que vou.

Por enquanto é sonho. Sonho fatídico. Mas depois - depois tudo é real. E a alma livre procura um canto para se acomodar. Mim é um eu que anuncio.

Não sei sobre o que estou falando. Estou falando de nada. Eu sou nada. Depois de mprta engrandecerei e espalharei, e alguém dirá com amor meu nome.

É para o meu pobre nome que vou.

E de lá volto para chamar o nome do ser amado e dos filhos. Eles me responderão.

Enfim terei uma resposta. Que resposta? A do amor.

Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor.

O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.

À extremidade de mim estou eu. Eu, implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? Que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo.

Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama. Vou, bruxa que sou. E me transmuto.

Oh, cachorro, cadê tua alma? Está à beira de teu corpo? Eu estou à beira de meu corpo. E feneço lentamente.

Que estou eu da dizer? Estou dizendo amor. E à beira do amor estamos nós.

(Cecília Meireles)